O grande inferno

hoje está sendo difícil escrever, 

há tanta coisa acontecendo

dentro mim 

nesse exato momento, 

não sei ao certo 

o que pôr para fora.

passei o dia encarando 

a tela branca 

de um computador,

tentando escrever alguma 

coisa relevante, 

mas falhei 

miseravelmente.

tem dias em que as palavras

não encaixam, 

perco-me no amontoado

de pensamentos confusos,

é enfadonho existir.

as palavras não conseguem 

expressar

a agonia que sinto 

aqui dentro do peito.

tentei me desligar por 

alguns segundos,

focar em outras coisas,

sair de casa,

conversar com as pessoas,

mas não tenho mais 

paciência para isso.

escrever é a única 

forma que 

tenho para não 

enlouquecer,

mas a ansiedade torna

tudo um grande inferno.

As vozes

triste demais
para falar sobre a tristeza,
cansada demais para
falar sobre o cansaço,
entediada demais para falar
sobre qualquer outra coisa.

o escuro do meu quarto
tem sido meu refúgio
nas últimas semanas.
não há mais o que
eu possa fazer ou dizer.

sinto que a escuridão voltou,
ela está aqui,
eu a sinto corroer
meus ossos
como uma praga que se
alastra e toma
todo o lugar.

deitada em minha cama
luto contra o
meu próprio caos.
as vozes em minha cabeça
me dizem para apertar
o botão do fim,
mas ainda não é
o momento.

Ausente

meses se passaram sem que eu te visse,
o telefone tocou mas não era você,
bateram à porta e não era você,
nenhuma notícia sequer.

essa manhã bateram à porta,
era você.
um silêncio doloroso de alguém
que nunca soube o que dizer
pairou sobre o ar.

sua presença me desnorteia,
me tira o chão,
o teto,
a alma.

teus carinhos interesseiros
corroem-me,
você já arrancou tudo que existiu em mim,
cada vez que me deparo com a tua
imagem fria e perversa
morro mais um pouco.

você ao menos sente muito?
ao menos reconhece que falhou no seu papel?
queria ter forças para te mandar ir à merda,
minha querida mãe.

passei a vida tentando fugir de tudo
que me fizesse parecer você,
espero que os anos de solitárias
noites em prantos tenham valido a pena.

não queria que doesse tanto,
não queria que você me afetasse desse jeito,
mas é provável que você sempre seja o meu pesadelo
mais horrendo,
a lembrança que mais me dói.

conheço suas desculpas,
suas justificativas nunca
foram o suficiente
para mim,
é difícil acreditar em alguém
que te abandonou.

não há mais o que fazer,
o que eu podia ter feito
já fiz.
então,
adeus.

Tu e teus olhos de céu estrelado

teus olhos negros me lembram a noite,

quase consigo enxergar as estrelas através deles.

um pequeno céu, 

com um infinito de mistérios.

é perigoso te olhar, 

eu não sei se resisto 

a tudo que você provoca em mim.

teus olhos me trazem a paz de uma noite tranquila,

é como encarar o céu estrelado.

perco-me na tua imensidão

e não desejo voltar.

me conta os teus segredos, 

desnuda tua alma para mim,

não há mais nada que nos impeçam de colidir. 

tu me tocou tão suavemente 

que a minha pele arrepiou, 

tuas mãos descem pelo meu corpo

com a leveza de uma pluma e então,

ardemos em chamas.

você me tocou de tantas formas bonitas, meu bem

foi como uma colisão entre buracos  negros.

e eu volto a pensar que

quando a alma já foi despida, 

o corpo deseja despir-se também.

Todos, menos você

Ontem fui naquela festa que tínhamos combinado de irmos juntos,
todos estavam sorridentes e aparentemente perfeitos.
fiquei olhando para aqueles rostos e me perguntando se mais alguém ali se sentia tão fracassado quanto eu.

é uma merda ter que sair de casa para socializar, pensei.
eu queria me sentir menos mal, 
queria só por alguns minutos não mentir quando digo que estou bem,
já não consigo me sentir confortável em lugar nenhum.

Bukowski daria risada desse bando de gente fútil 
esbanjando suas vidas de merda, 
mentindo sobre como são felizes em seus trabalhos detestáveis 
e nas amizades que só perduram para que seus egos continuem inflados.

eu sinto pena deles só de olhá-los.
e não que eu seja grande coisa, 
todos nós estamos tentando fugir dessa realidade dura.
mas pelo menos eu aceito que estou na merda 
sem precisar pisar em ninguém para provar o contrário.

fiquei lá por umas duas horas com o meu copo na mão, 
sentada com meia dúzia de pessoas em uma sala que mal cabiam cinco,
esperei por um momento oportuno para ir embora sem que ninguém percebesse.
fingi que ia ao banheiro e dei o fora. 

todos estavam lá, menos você,
então eu acho que entendi.
era o fim, era realmente o nosso fim,
e eu precisei ir a uma festa estúpida para finalmente compreender.

Conexão

Lembro-me de ter olhado para ele e pensado: 'É a coisa mais linda que eu já vi, 

como pode estar em minha vida? Droga, vou estragar esse garoto!'. 

mas no fim, acabou que quem me estragou foi ele, 

sou tão dele que não presto para ser de mais ninguém. 

eu sei, Isso soa um tanto exagerado, mas acredite, 

não há nada em mim que não te lembre ele. 

tantas coisas aconteceram, tantas outras foram ditas,

mas acho que nunca cheguei a dizer que aqueles olhos nocauteou meu coração, 

olhos que quando repousavam sobre os meus me traziam a paz que o mundo anseia, 

até Gandhi se surpreenderia com o efeito que os teus olhos têm sobre os meus. 

   

não tive chance, desde o primeiro dia que os nossos olhos se encontraram 

eu já sabia que não tinha como fugir. 

você foi como um raio de sol na minha escuridão.

foi um encontro de almas, nossa conexão é inegável.

Isso é tudo que importa nesse exato momento.