quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Eu não temo a morte

Quando olho para dentro de mim
não consigo mais enxergar 
a garota sonhadora e 
cheia de expectativas, 
me pergunto em que parte do 
percurso ela foi 
esquecida, 
abandonada,
deixada 
para trás. 

Sinto que estou agonizando,
que a qualquer momento 
eu não vou mais 
conseguir 
chegar ao final 
do dia.

Achei que eu fosse mais forte,
achei que eu conseguiria 
ser melhor que isso,
mas quem eu 
estou enganando?
eu sou péssima
em tudo.

Não me reconheço mais,
sinto que já vivi tudo de 
bom que eu poderia
viver, não há mais 
nada além 
dessa 
agonia 
devastadora.

Tentando ajudar o mundo 
enquanto eu preciso 
de conserto,
dizendo para as pessoas 
que vai ficar tudo bem, 
quando nem eu 
mesma consigo 
acreditar 
nisso.

Sinto-me tão cansada de lutar,
eu não quero mais lutar,
não quero mais acordar 
pela manhã 
fingir que está 
tudo bem, 
eu não quero, 
não consigo.

Eu só quero partir sem 
estardalhaço, 
sem ter que me 
despedir,
sem ter que explicar o 
inexplicável, 
eu quero partir,
ir embora como quem 
nunca tivesse chegado.

Cada parte do meu corpo dói,
minha alma já não habita 
mais em mim,
tudo que você vê é
uma carcaça podre 
e sem vida.

Eu não temo a morte,
eu temo que essa dor seja 
tudo que eu consiga sentir.
Não quero uma 
vida assim,
não quero ser uma 
mentira.

Pensando bem, 
eu já fui embora 
desse lugar faz tempo.
O que restou foi 
esse corpo que 
vaga por aí como 
se tivesse vida, 
mas não há,
não mais.