Era uma manhã de domingo como outra qualquer, ouvi alguém batendo na porta do meu quarto. era ele. a ultima pessoa que eu deseja ver naquela manhã. meu pai.
— Vai ter festa lá em casa, você precisa ir. Diz ele sem a menor preocupação com a minha retórica.
Eu fui.
Decidi ir, afinal, todos estavam lá. Chamei um amigo, pois eu não queria ter que passar por aquilo sozinha. Cheguei e a festa mal tinha começado, eu planejava ir embora o mais rápido possível, me sentia sufocada pelas minhas próprias angústias e traumas, tudo me parecia fora do lugar.
A festa rolava, eu fingia me divertir enquanto observava todos em suas vidas ordinárias, manchados por um passado que não me deixo esquecer, por mais que eu quisesse. Eu precisava sair dali, mas por algum motivo decidi ficar, talvez fosse pela importância que eu persisto em ter por eles.
Eu queria poder dizer que eu não me sentia bem, que eu estava decepcionada comigo mesma por não conseguir dizer-lhes o quanto eu os odeio por tudo que fizeram, por tudo que tiraram de mim e que eu não sei se ainda os amo como eu deveria.
Permaneci engolindo as mazelas internas e dissimulando uma felicidade ridiculamente fingida, esperando por um momento adequado para ir embora sem parecer rude.
Continuei andando pela casa sem saber direito o que fazer, entrei em um quarto e te vi sentada no chão, escondida entre a cama e uma cômoda velha, fiquei te olhando por alguns segundos enquanto sentia um turbilhão dentro de minha cabeça.
Você estava fazendo de novo, insistindo no mesmo erro, voltando para aquilo que não te pertence mais, magoando todos ao seu redor.
A traição é massacrante, pensei.
Passei a minha vida inteira fugindo de tudo que me fizesse parecer você, de tudo que me levasse a você, mas ali estava eu, cara a cara com o meu maior medo.
Não demorei muito até decidir ir embora da festa, você já tinha sumido e eu sumi logo em seguida. Cada passo que dei até em casa só me levava a um pensamento, que eu prefiro a morte a ser alguém como você.
